NOTÍCIAS - DIARIO DE AVEIRO 29-03-2005
Marcos Muge restaura painéis de azulejos
Oriundos do antigo Hotel Avis
Três dezenas de painéis de azulejos oriundos do antigo hotel Avis, de Lisboa, estão a ser restaurados e conservados pelo artista plástico Marcos Muge, na sua oficina em Ovar Cerca de três dezenas de painéis de azulejos, executados no início do século XX, que decoraram o luxuoso Hotel Avis, em Lisboa, e que actualmente são propriedade de um particular, estão a ser restaurados por Marcos Muge, na sua oficina em Ovar. Os painéis, quando foram retirados do hotel, foram colados, com cola de cimento, em placas de fibrocimento, pelo que a sua remoção desse suporte físico é praticamente irreversível, motivo pelo qual, apesar do restauro, continuarão sobre essa placas, após o devido acerto desses suportes. Depois de efectuado o acerto das placas de suporte, o artista vareiro procede à limpeza de cada um dos painéis, pondo em evidência a respectiva pintura. Após isso, segue-se a fase de preenchimento das lacunas ou dos azulejos degradados (falhas, fissuras, rachas) com uma argamassa compatível com o material original dos respectivos azulejos. Só depois desse minucioso trabalho de conservação do azulejo é que Marcos Muge faz o restauro da pintura, utilizando a pintura a frio. Neste momento, já estão conservados e restaurados cerca de metade dos painéis, tanto dos maiores como dos pequenos. Os painéis maiores são constituídos por seis filas de onze azulejos, enquanto que os mais pequenos são constituídos por quatro filas de quatro azulejos, que, tanto nos primeiros como nos segundos, são acrescidos das respectivas cercaduras, também em azulejos. As cercaduras são decoradas com motivos florais e rostos humanos, com tonalidades amarelas, sépias, verdes e imitações marmoreadas. As pinturas dos painéis apresentam tonalidades sépias e representam alegorias (humanas) a Lisboa, com motivos pictóricos típicos do século XIX. Os painéis não estão datados nem assinados, mas devem ter sido executados nos inícios do século vinte, uma vez que o edifício foi construído em 1906, e a inauguração como hotel ocorreu em 1933. Um artista multifacetado Marcos Muge é um artista plástico que se dedica a uma ampla gama de actividades, desde o restauro de azulejos, de telas e de frescos até à criação de peças de arte, onde se inclui a cerâmica artística, a pintura (óleos, acrílicos, azulejos, o fresco, o mural e outras), tanto de cariz clássico como moderno. Na técnica de pintura a fresco, é mesmo um dos raros artistas actuais que promove essa técnica em trabalhos modernos, tendo ainda recentemente efectuado uma pintura nova numa capela da região, para além de ter restaurado um outro fresco na igreja de Esgueira. No corrente ano, Marcos Muge irá assinalar os seus 20 anos de actividade artística com uma exposição onde irá apresentar pintura a óleo, sobre telas de grandes dimensões e com temática moderna, e originais peças de cerâmica artística. O mais sumptuoso hotel do mundo Silva Graça, avô materno da pintora Helena Vieira da Silva, então proprietário do jornal «O Século», era o dono do palacete original, construído em 1906 por António Pio e com projecto do conhecido arquitecto Ventura Terra. Mais tarde, Silva Graça vendeu o palacete a um genro, de nome Joseph Rugeroni, que transformou o palácio, situado no gaveto da Rua Latino Coelho com a Avenida Fontes Pereira de Melo, no Avis Hotel, cujas obras de adaptação decorreram entre 1930 e 1933, segundo projecto do arquitecto Vasco Regaleira e direcção técnica de Carlos Augusto Sá Carneiro. Ainda antes do início da Segunda Guerra Mundial, a revista norte americana considerou o Avis Hotel como «o hotel mais sumptuoso do mundo». Durante décadas, foi o mais luxuoso hotel português e um dos melhores da Europa, tendo sido escolhido por Calouste Gulbenkian para sua residência durante 13 anos, onde ocupou, durante todos esses anos, dez dos 25 quartos do hotel. Outra curiosidade do hotel é o facto do então chefe do Governo português, António de Oliveira Salazar, vender para o Avis Hotel os ovos provenientes da capoeira que tinha instalada nos jardins do Palácio de S. Bento. O encerramento do hotel, e posterior demolição do palacete, foi autorizado por Oliveira Salazar após a inauguração do Hotel Ritz. O último hóspede do hotel saiu no dia 30 de Abril de 1961.
Cardoso Ferreira
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